Eu, meu pai e o futebol

Ana Clara Braga
3 min readApr 21, 2020

Nasci em 1998, ano de Copa do Mundo. Naquele ano não teve título, mas foi o início da história que eu e meu pai temos com o futebol. Ele, um eterno fissurado pelo esporte estava à procura de um companheiro para ver os jogos e eu uma futura amante da paixão brasileira estava nascendo.

Não lembro muito da Copa do Mundo de 2002, mas lembro muito bem de querer acordar de madrugada para ver jogos com meu pai. Mais do que ver a seleção, ver jogo com ele era o programa mais divertido que eu poderia querer. A partir de 2005 minhas memórias com o futebol passam a ser claras. Via jogo toda quarta-feira a noite com meu pai como um programa sagrado, deitada nele, porque naquela época eu ainda cabia. Enquanto eu estudei a tarde, não perdi uma quarta, era nossa quarta. Copa do Mundo de 2006 foi minha primeira grande decepção com meu esporte preferido. Como explicar para uma criança de 7 anos que o Brasil com Ronaldo, Ronaldinho, Kaká e Adriano não ganhou o hexa? Ah, Roberto Carlos e suas meias, como te culpei naquela época. Meu pai me explicou que não era culpa sua, mas eu, como criança, precisava apontar o dedo para alguém, não é?

Sou muito muito próxima do meu pai. Somos muito parecidos de jeito, de temperamento, de manias, de gostos. Falamos sobre filmes, notícias, música, fofocas de celebridades (todo mundo tem um ponto fraco), mas quando se trata de futebol, vamos longe. É nosso assunto preferido. No café da manhã, no almoço, no jantar, no carro, no sofá, antes de dormir, por mensagem, não importa. Se sabemos de algo novo, avisamos. Somos a central de notícia futebolística um do outro, contando novidades, causos, resultados bons ou ruins geralmente precedidos por um “adivinha”. Futebol não é só alegria e sentimos isso na pele mais vezes do que gostaríamos. Nós dois sofremos juntos, ele mais que eu, segundo ele é porque ele é porque já é mais velho. Apesar das tristezas, ainda sabemos comemorar! Mesmo que ele não grite mais pela janela como tanto gostava de ver quando era pequena.

Gosto muito de ouvir histórias e as histórias que meu pai tem para contar sobre futebol são as melhores. O homem é uma verdadeira enciclopédia viva da história do esporte. Eu tento, mas não consigo lembrar de tudo, ainda bem que tenho ele para perguntar sempre que esqueço de algo. A Copa de 70 em especial é uma história que já ouvi muitas vezes, mas sempre peço para ouvir de novo. Esse ano tivemos a oportunidade de vê-la juntos na TV. Não sei o que foi mais emocionante, ver Pelé, Tostão, Jairzinho e todo o time dos sonhos conquistar o tri, ou ver tudo isso ao lado da pessoa que me fez amar tanto esse esporte. A cada jogo, os passes, os dribles e os gols e meu pai corrigindo os narradores quando davam informações erradas me divertiam e me encantavam.

O futebol é unanimidade nacional, mas para mim tem gostinho de família. A relação pai-filha mais linda que podia sonhar é mais mágica ainda porque se diverte e sonha com as quatro as linhas. Sofremos, vibramos, nos revoltamos, rimos e o mais importante: passamos tempo juntos e construímos memórias.

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Ana Clara Braga

Jornalista que ama música, cinema, sentimentos e cultura pop.